De toda a equipe de saúde envolvida, é
o técnico de enfermagem quem executa a maior parte das tarefas com o paciente.
O corpo do paciente é o objeto de atenção, a quem cabe a tarefa de cuidado
diária. A enfermagem detém a permissão social e cultural para tocar o corpo do
outro, podendo desnudar, limpar, amarrar, banhar, secar, alimentar, injetar,
raspar, vestir e nesse momento, mesmo que não se aperceba disso, expressa seu
sistema de valores, conseqüência de sua cultura, da realidade do mundo ao qual
faz parte. Assim, também é o corpo.
A idéia que temos de corpo também foi
sendo construída a partir dos valores a ele atribuídos. Ele não é
experimentado, entendido de modo igual para todos os indivíduos. A percepção
que temos do corpo é resultado da nossa cultura especifica. Ele é na verdade
uma simbolização, ou seja, o corpo é uma representação dos nossos conceitos de
pessoa, sexualidade, dentre outros. A experiência corporal não é universal. O
corpo não fala por si próprio, a cultura vai deixando marcas e atribuindo
significados que não são eternos. O cuidado do corpo por parte do pessoal de
enfermagem inclui uma manipulação do outro mediante procedimentos e técnicas do
ato de cuidar. Alem dos sentidos usa-se também a intuição, a percepção, a
sensibilidade criando uma linguagem corporal própria, na qual pela forma de
tocar, olhar, cuidar, são expressos valores, conceitos, receios, preconceitos,
temores, etc.
Tomar consciência dos próprios
temores, preconceitos, duvidas e limites em relação ao seu próprio corpo e ao
do paciente e fundamental para que se estabeleça uma relação na qual esse corpo
se personifique, ganhe uma identidade, deixe de ser apenas um objeto que
precisa de cuidados para pertencer a uma pessoa que tem também seus próprios
preconceitos, duvidas, timidez e vergonha, principalmente no memento de um
contato mais intimo. Devemos tentar naturalizar a situação hospitalar.
Do mesmo modo que um bebe é
amamentado, a alimentação não e a única necessidade que se esta sendo atendida,
mas também através desse contato, o bebe sente-se acariciado, protegido,
desenvolvendo, a partir daí, um sentimento de confiança, etc. Desse modo, no
ato de prover as necessidades físicas do individuo, promovendo o cuidado com o
corpo, algo alem do próprio cuidado esta em jogo. É possível estabelecer uma
relação de solidariedade, percebendo as dificuldades, duvidas e temores do
paciente. Há muita insegurança por parte do paciente, no momento da
hospitalização e na própria experiência da doença. Muitas vezes a pessoa não
sabe ao certo o que vai lhe acontecer.
A ansiedade faz-se presente,
principalmente em procedimentos cirúrgicos que representam ameaça à integridade
corporal ou que comprometam a autonomia da pessoa, como nos casos de
colostomia, mastectomia e amputações. É importante compreender que não é
simplesmente um simples membro que vai ser extirpado em troca de melhor
prognostico, mas sim uma parte da pessoa que tem uma função e significados
específicos. Tal medida requeira um aprendizado para se conviver com a nova
situação. Assim, é mais aconselhável tentar entender a sua tristeza e estar
disposto a escutá-lo, ao invés de tentar reanimá-lo. É compreensível certo
desconforto, certa estranheza e, muitas vezes, para negar essas sensações, se
mantém uma distancia emocional em relação aos pacientes, por meio de uma padronização
dos mesmos, que são vistos como iguais, no pior sentido que isso possa ter, no
que se refere a perda da identidade. Todos nos sentimos medo, vergonha, culpa,
tristeza, alegria, amor, etc. Nem tudo pode ser explicado pela razão.
Sentimentos são para ser sentidos, experimentados, respeitados, para
aprendermos a lidar com eles e de forma que possamos nos conhecer e viver
melhor.
Um técnico de enfermagem sensível, bom
observador, conhecedor de suas próprias emoções, limites e possibilidades têm
maior chance de maior atuação junto aos clientes. É importante perceber que
cada paciente é único, apesar das tarefas executadas serem as mesmas. Isso
entendido pode ser um facilitador para ambas as partes, propiciando ao paciente
um tratamento mais humanizado e ao profissional um melhor desempenho.